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março 31, 2023A princípio, a criança é vista como um ser naturalmente bom, mas, nem sempre ela o é. Transtornos que tornam uma criança cruel podem ser percebidos ainda na infância.
Pautada pelos acontecimentos do início da semana em escolas no Brasil e nos Estados Unidos, que levaram professores, colaboradores e alunos à morte, assassinados por adolescentes e jovens, quero compartilhar um texto muito bom sobre o assunto com meus leitores. Os apontamentos foram pesquisados em fontes especialistas no assunto.
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A imagem da criança como um ser puro, ingênuo, feliz e naturalmente bom se encontra muito presente nos discursos de pais e educadores. Ou seja, a criança é tida como um ser bom por natureza, e a infância é narrada como um tempo mágico, só de alegrias, um paraíso.
No passado havia um pensamento de que a criança, pela sua inocência e pureza, tinha a capacidade de autorregulação e a busca pela Virtude, a Verdade e a Beleza; e que quem a corrompia era a sociedade. No entanto, essa visão idealizada de inocência vem se chocando com outras, as quais colocam em “cheque” essa imagem tão pura e cândida das crianças. Isso pode ser constatado nas falas de adultos ao dizerem que “as crianças eram boas, ingênuas e puras; mas que, na atualidade, elas não são mais assim, pois revelam outras características, como falta de respeito, de educação e de limites”.
Notamos aqui o surgimento de uma imagem da criança que podemos chamar de criança sem limite, ou seja, uma criança que não aceita regras, não respeita os adultos, não é tão ingênua, tão inocente, tão “boa”. Isso vem chamando a atenção porque essa tensão enfatizada pelos adultos não consegue se encaixar nas imagens idealizadas e historicamente construídas. Traduzindo: As escolas deixaram de ser jardim de infância e nós deixamos de ser jardineiros. A realidade social e moral da infância-adolescência tensiona nossas metáforas, e revela contradições modernas e incômodas.
UM OLHAR MÉDICO SOBRE O PROBLEMA
Entre cinco e seis anos as crianças se tornam capazes de, propositalmente, causar danos físicos ou emocionais a outros. Nesse estágio, esse tipo de comportamento já pode ser considerado maldoso, pois é a fase em que as crianças compreendem os próprios estados emocionais e entendem o que é certo e errado.
A maldade não é mais segredo para ciência. Hoje em dia, os pesquisadores já sabem que a crueldade se manifesta de forma biológica, como uma falha nos circuitos cerebrais, e que pode ter fatores sociais e genéticos. O psiquiatra Fábio Barbirato, chefe do setor de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explica como essa maldade se manifesta nas crianças.
Uma criança pode ser tão maldosa quanto um adulto?
Maldade pode ser definida como falta de empatia. Quando você provoca algo mal a alguém, é porque você não está muito preocupado com que essa pessoa venha se machucar fisicamente ou emocionalmente. Isso significa que você não se importa com o outro. A gente sabe que essa falta de empatia está ligada a algumas áreas do cérebro, como o córtex frontal. Ela também está ligada, em seus casos mais extremos, ao que os antigos chamavam de Psicopatia e hoje nós chamamos de Personalidade Antissocial. O termo utilizado para definir essa mesma falta de empatia em uma criança é Transtorno de Conduta. Esse transtorno começa na infância e pode ser diagnosticados até os 17 anos. Ele se caracteriza justamente pela falta de empatia, o remorso, chegando à violência. Essa criança que pode cometer violência se caracteriza pelo garoto ou garota que junta uma galera pra bater em outra criança porque ela é mais pobre ou negro, ou tem características homossexuais. Mas essa violência pode aparecer de outras formas – ela pode ser aquela criança que no infantil morde o amiguinho escondido ou, no básico, rouba a prova dele, por exemplo. Essa “violência” pode ser observada partir dos cinco anos de idade.
Porque só se percebe esse transtorno a partir dos cinco anos?
Como profissional, nós só podemos fazer o diagnóstico a partir dos cinco anos porque as áreas do cérebro ligadas ao comportamento inibitório só se desenvolvem a partir dessa idade. Depois disso, a criança já sabe o que é errado e certo. Sabe que, se machucar alguém, esse alguém vai sentir dor. Ela já consegue se colocar no lugar do outro e já tem a capacidade de inibir seu comportamento se perceber que sofrerá algum tipo de punição. Depois do diagnóstico, temos que incentivar a família, para não reforçar esse comportamento agressivo e não ser modelo dele.
Que tipo de característica se pode enxergar em uma criança com Transtorno de Conduta?
São crianças que têm comportamentos perversos, agressivos. São aquelas que, quando podem roubar um brinquedo de alguém, vão lá e roubam. Aquelas que batem ou mordem os amigos, mas que fazem de modo que ninguém veja. São crianças que manipulam os adultos. Normalmente, elas são muito sedutoras, conseguem transformar a situação a seu favor. Em geral também elas são mais inteligentes do que o normal.
Essa criança vai levar essas características para a vida adulta?
De 70% a 90% dessas crianças desenvolvem uma personalidade antissocial.
Temos como prevenir isso?
Quanto mais precoce for identificado o transtorno, melhor. É importante perceber que seu filho está muito agressivo e não demonstra grandes arrependimentos. Nesse momento deve-se procurar ajuda. Não há medicação nenhuma que mostre resultado nesses casos. São quadros que precisam de uma reestruturação familiar atenta e profunda. A ideia não é ensinar e educar seu filho, mas mudar a dinâmica da família. Comportamentos positivos trazem benefícios muito maiores do que comportamentos negativos.
Então o papel dos pais é importante no surgimento desses casos?
É fundamental. Não porque sejam os causadores do transtorno, porque está provado que é uma questão orgânica, uma alteração do funcionamento normal do cérebro. Como a criança não tem freio inibitório, ela acaba tendo comportamentos inadequados. Mas, se a criança ou jovem tiver uma família que é mais próxima, que o ajude a perceber que esses atos são danosos aos outros, que o faça notar que o outro se sente incomodado ou prejudicado pelas suas atitudes, é possível mudar seu comportamento, até para que, no futuro, esses jovens não tenham de passar por uma intervenção médica ou até mesmo uma internação em uma instituição correcional, como as antigas FEBEM. Porque, provavelmente, muitos dos jovens que estão internados nestas instituições são jovens com transtorno de conduta que não tiveram a facilidade de um diagnóstico precoce e uma ajuda familiar.
Por parte de família, que tipo de comportamento poderia aumentar a empatia da criança?
Não existe uma regra, uma receita de bolo. A família tem de prestar atenção se o filho tem pouca empatia, pouco arrependimento, rouba coisinhas na escola. Os pais não devem ter preconceitos e procurar uma ajuda o mais rápido possível. Devem procurar um profissional, psiquiatra ou psicólogo especializado nisso, porque assim podem prevenir que no futuro a criança ou jovem venha a ter problemas graves, desde agressividade até abuso de drogas.
NESSE CASO, QUAL SERIA O PAPEL DA ESCOLA?
A orientação. Porque é na escola que, em geral, os transtornos se manifestam com mais intensidade. A princípio, os educadores podem ter certa dificuldade em reconhecer a criança como ator social que sofre as influências das suas condições concretas de existência – das relações sociais, culturais, econômicas ou familiares, nas quais vivem e constroem a sua infância – até por ainda não conhecê-las, ou por uma ideia da existência de uma suposta natureza infantil. Mas com o tempo, pode-se dizer que os educadores abstraem ou comparam a diversidade e a pluralidade num universo coletivo, enfatizando sobremaneira os traços comuns entre as crianças e reconhecendo os diferentes. Como parceiros da família, essa experiência permite que os educadores identifiquem a necessidade individual de ajuda profissional e comunique a família, compartilhando informações que possam auxiliar na construção da personalidade saudável e feliz da criança ou jovem.
*Fonte: Galileu
*Entre o Céu e o Inferno da Infância (TD)