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agosto 23, 2023A sexualidade se encontra entre os objetos de estudo que costumam navegar entre a evidência científica, a experiência clínica e os mitos espalhados pelas crenças populares. Os benefícios da atividade sexual sobre sistemas como o cardiovascular, o neurológico e o imunológico estão demonstrados na literatura científica. Mas essas evidências podem dar margem para se pensar na ideia contrária: A abstinência tem efeitos negativos sobre o organismo? A dúvida atinge muitas pessoas, porém, a questão ainda não foi totalmente definida porque atualmente se sabe que ela se divide entre o corpo e a mente e também está totalmente conectada com o estado emocional dos indivíduos.
Segundo o ginecologista e sexólogo do Hospital Universitário de Burgos, Modesto Rey, porta-voz da Junta Diretora da Sociedade Espanhola de Contracepção (SEC), ninguém pode deixar de se comportar como ser sexual. Mas é possível anular as fantasias sexuais e o erotismo da própria vida por razões morais, místicas ou por medo – psicologicamente falando, depende da motivação de cada pessoa. A medicina apresenta vários casos de pessoas que não têm relações sexuais, mas não sofrem transtornos. Assim, os efeitos que se costuma questionar vêm da contraposição, ou seja, dos benefícios que têm sido estudados e se afirmado como excelentes razões para se fazer sexo.
A relação positiva entre a sexualidade e a patologia cardíaca, os acidentes vasculares cerebrais e a síndrome metabólica como a diabetes tipo II está comprovada. Por exemplo, sabemos que as relações sexuais afetam a imunidade, uma vez que o déficit de relações sexuais não estimularia de forma adequada a imunidade. Ou, quando se tem relações se está em contato com antígenos de outras pessoas, o que favorece a imunidade.
Quando alguém lê que o sexo é bom para a pressão arterial pode pensar no contrário, que a falta de atividade sexual se traduz em hipertensão – mas não é assim. A sexualidade é um elemento importantíssimo para saúde física e mental de um indivíduo, mas se alguém decide abrir mão dela pode permanecer perfeitamente saudável. Ok! Não há estudo ou pesquisa que afirme o contrário.
O EXEMPLO MÉDICO
Quando, então, a abstinência sexual é um problema? No caso de não se ter atividade sexual e isso representar uma preocupação, pode haver um efeito emocional negativo. Quando se fala da parada da atividade sexual, não por uma causa voluntária, mas sim por algo que a impede, os estudos apontam efeitos sobre a autoestima das pessoas ou a ideia negativa do autoconceito, aumentando o estado de depressão e ansiedade. Ou seja, o prejuízo aumenta porque o indivíduo tem consciência dessa ausência, e o impacto psicológico acaba se traduzindo em outros processos fisiológicos e orgânicos. Por outro lado, uma pessoa que nunca teve uma atividade sexual individual ou compartilhada não sabe tão bem o que acontece, e, se cuidando em outros aspectos, a falta de sexualidade não tem porque ser tão negativa. Resumindo, não se sente falta daquilo que nunca se teve.
O estresse, por exemplo, é provocado por diversas condicionantes, como a falta de sono e as preocupações diárias, mas também pode estar relacionado com o sexo, segundo um estudo da mesma universidade espanhola, detectaram-se menores níveis de estresse entre pessoas que tinham mantido relações sexuais recentes. A tendência natural fisiológica é sempre compensar o nosso corpo: Se estamos mal e nosso nível de dopamina e serotonina diminuem por estarem bloqueando os sistemas de recompensa, teríamos que recorrer a um mecanismo natural como o sexo para tentar desbloquear essa situação, mas muitos não o fazem de forma espontânea devido aos condicionamentos sociais, morais e culturais que dizem que isso não é correto. É um exemplo de como a percepção de nossa saúde e a influência da cultura às vezes podem nos bloquear na hora de solucionar nossos problemas de saúde.
Segundo um estudo sobre 66 culturas em diferentes lugares do mundo, publicada no livro Sed, do escritor Lucas de Piel, as sociedades mais agressivas são as mais abstêmias ou reprimidas. É o caso das culturas patriarcais como algumas tribos de Nova Guiné, onde 30% dos homens morrem em atos bélicos, são mais agressivas e, por sua vez, têm uma moral sexual mais repressiva, consequentemente, o sexo não é visto como prioridade. Mas se uma pessoa não tem relações sexuais pela ótica do pecado ou por uma disfunção, doença ou incapacidade, ou porque acha feio, então está criado um problema.
A FALTA DE SEXO E SUAS INFLUÊNCIAS
No sono: Vinculado ao descanso e ao relaxamento, o benefício da atividade sexual sobre o sono também é algo que os abstêmios perdem. É algo que antes os homens primitivos sabiam instintivamente, mas os modernos esqueceram. Antes utilizavam as relações sexuais para dormir e relaxar. Agora, o estresse tomou tudo e as pessoas não veem os remédios fisiológicos que o nosso próprio corpo tem, na verdade os ignoram. Ouvir o nosso corpo às vezes pode nos ajudar como, por exemplo, no caso de recorrer à atividade sexual para dormir melhor.
Na Inteligência: Apesar de ainda não ter sido referendada em estudos posteriores, uma pesquisa de 2013 chegou a apontar que uma atividade sexual limitada poderia se traduzir em menor inteligência, devido ao papel do sexo como incentivo a neurogênese – a criação de novos neurônios – e a função cognitiva, uma vez que as relações sexuais podem impulsionar o crescimento celular no hipocampo, a região cerebral da memória em longo prazo.
Nos cuidados com o corpo: Manter relações sexuais também contribui para uma questão nada fútil: A consciência sobre o próprio corpo e o cuidado com os órgãos genitais, algo que se costuma descuidar nos casos de abstinência. A vagina é um músculo, e se não trabalha, acaba ficando flácida e aparece uma hipotonia – uma redução do tono muscular. No caso dos homens há ainda o risco de câncer de próstata. Cada vez que o homem ejacula coloca em funcionamento todo um mecanismo muscular, neuronal e endócrino que faz com que o líquido flua e gere certa limpeza e descongestionamento da próstata, e se não há essa atividade não existe tanta reposição. A falta da atividade sexual pode aumentar a probabilidade de padecer de disfunção erétil.
Segundo um artigo do American Journal of Medicine, após fazer o acompanhamento de 900 casos durante cinco anos, os homens entre 50 e 70 anos que tinham relação sexual uma vez por semana tinham a metade da probabilidade de desenvolver disfunção erétil do que os homens que as tinham com menos frequência. Os pesquisadores demonstraram que a atividade sexual regular permite conservar a potência sexual da mesma forma que a atividade aeróbica mantém a capacidade física do corpo.
*Imagem: Google
ES – 22/08/2023