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agosto 17, 2022Há pouco tempo, durante uma catequese, o Papa Francisco fez um apelo aos casais que adotassem crianças porque a orfandade no mundo tem sido notória. O Papa também afirmou que se trata de um ato de humanidade e criticou os movimentos de adoção de animais que, segundo ele, são feitos em detrimento de crianças. “Muitos casais não têm filhos porque não querem ou tem um só e chega, mas têm dois cachorros, dois gatos que tomam o lugar dos filhos. Sim, é engraçado, entendo, mas é a realidade. Renegar a paternidade e a maternidade nos diminui, tira a nossa humanidade”, disse o pontífice.
Eu não concordo com o Papa, e se você concorda, nem precisa continuar lendo essa matéria. Mas o fato é que nem todos nascem para procriar. Alguns preferem bichos a ter de assumir a criação de um ser humano num mundo tão complexo e com tantas exigências como o de hoje. Por outro lado, os filhos não têm culpa de ter nascido e merecem que o adulto que se comprometeu a tê-los deva oferecer o seu melhor.
PARA OS QUE PREFEREM BICHOS A CRIANÇAS
Uma pesquisa anual do COMAC – Comissão de Animais de Companhia do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal, O SINDAN, que leva o nome de Radar Pet; fez um levantamento para explorar o universo dos lares brasileiros nas classes A, B e C, que tem margem de erro de 3,6% em intervalo de confiança de 95%; para esclarecer o tema: POR QUE BICHO E NÃO GENTE?
Realizada por uma consultoria, a edição de 2021 desta pesquisa mostrou que, das casas que têm cachorros, 21% delas são de casais sem filhos (contra 9% de casas com pessoas morando sozinhas e 65% de casas com filhos). Das casas que têm gatos, 25% delas são de casais sem filhos (contra 17% de casas com pessoas morando sozinhas e 55% de casas com filhos). Só a título de comparação, em 2019, por exemplo, 20% dos lares com cães eram de casais sem filhos, e 22% dos domicílios com gatos eram de casais sem filhos.
A Radar Pet 2021 mostrou ainda, que o principal perfil de casas que adquiriram um gato durante a pandemia de Coronavírus, por exemplo, foi o de casais sem filhos, responsáveis por 60% das aquisições destes animais no período. Para cães, o perfil predominante foi de pessoas morando sozinhas.
A pesquisa também pergunta aos donos de animais de estimação como enxergam seus pets: Como filho, membro da família, amigo, companhia, bicho de estimação ou uma forma de assistência. De 2019 para 2020, cresceram os percentuais de donos que veem seus animais como filho e membro da família (de 24% a 31%). Curiosamente, diminuiu a parcela de pessoas que identificam seus pets como bichos de estimação.
Nas ciências humanas, essa tendência já ganhou até um nome: Humanos, cães e gatos, além de outros pets, estão formando as chamadas “FAMÍLIAS MULTIESPÉCIES”, aquelas em que o animal fica dentro da casa, participando da rotina da família.
Embora possa haver uma resistência na sociedade quanto ao reconhecimento dessas relações como familiares, essa demanda segue uma tendência que já está chegando à Justiça, com contratos e litígios sobre a guarda dos animais após um divórcio, por exemplo. Cartórios e serviços virtuais também já oferecem certidões de nascimento para animais de estimação. Além disso, os pets conservam uma agenda bem parecida com a das crianças, inclusive no que tange aos gastos.
Esta tendência caminha de mãos dadas com o consumo, em que o mercado pet é muito promissor. No Brasil, seu faturamento em 2020 foi de R$ 40,8 bilhões, segundo o Instituto Pet Brasil. Este valor inclui a atividade de pet shops, clínicas e hospitais veterinários, alimentação, brinquedos entre outros produtos. Para completar, já há hotéis e restaurantes que aceitam pets e oferecem até tratamento e atividades especiais para eles. Sem contar os shoppings Friendly e as praças pet.
A historiadora Keyla Ghunther explica que, embora os cães e gatos sejam domesticados há milhares de anos, nos séculos mais recentes essa proximidade com o humano chegou a um formato inédito, em parte devido à urbanização. “No campo, os animais tinham funções mais ligadas ao trabalho. Na vida cada vez mais regrada pela lógica da cidade, à medida que a escolaridade dos donos foi aumentando, foi crescendo o número de animais domesticados e diminuindo o número de filhos. Na prática, as pessoas vão diminuindo também a interdependência que teriam com as crianças para alcançar a liberdade sem culpa, porém, sem eliminar totalmente a necessidade do afeto”. Contudo, sem parecer simplista, na hora da necessidade é bem mais fácil deixar o pet em um hotel por dias, do que uma criança um dia inteiro na creche.
Mas o fato é que, em 2020, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 46,1% dos lares brasileiros tinha ao menos um cachorro, o equivalente a 33,8 milhões de domicílios. Quanto aos gatos, 19,3% dos lares tinha ao menos um deles, o equivalente a 14,1 milhões de casas.
Resumindo, independente de crianças ou bichos, na real, já não faz mais parte da cultura ver os filhos como a única possibilidade de trazer plenitude e felicidade para um casal — como um destino obrigatório de construção familiar. Assim, fica evidente que a fala do Papa está mais relacionada com um imaginário de que ter filhos é cumprir o “desejo de Deus”. Parece mesmo é que a instituição religiosa está alguns passos atrás em relação à realização e ao desenvolvimento familiar.
Dessa forma, fica claro para administradores e síndicos a necessidade de se incluir os pets às regras, adaptações e reformas do condomínio, evitando assim os problemas provocados por essa tendência, que tem modificado a rotina da convivência das famílias em comunidade. (Priscila Sugaya – ADMINISTRADORA DE CONDOMÍNIOS)
ES – 12/08/2022